Nicollas Ranieri de Moraes Pessoa

Baudelaire na contramão

Introduction

Baudelaire na contramão. Avalie a leitura de Baudelaire na poesia concreta brasileira por Haroldo de Campos. Analise sua posição na modernidade, contrastado com Mallarmé, e sua relação com as vanguardas.

Abstract

Em mais de um momento, a poesia concreta foi cobrada a respeito das omissões ou exclusões no interior do repertório que procurava defender, principalmente quando parecia escamotear poetas paradigmáticos para a compreensão da poesia moderna. Augusto Massi, por exemplo, enfatiza a ausência de Charles Baudelaire como reveladora da atuação dos poetas do grupo. O poeta francês, no entanto, desempenha um papel relevante, embora não como protagonista, em um dos textos mais conhecidos de Haroldo de Campos: “Poesia e modernidade: da morte da arte à constelação. O poema pós-utópico”. No raciocínio desenvolvido pelo ensaio, Baudelaire é responsável por levar a cabo a experiência da modernidade em sua vocação negativa. Por outro lado, Stéphane Mallarmé, já “pós-moderno”, seria capaz de anunciar o futuro por meio de uma revolução sintática e epistemológica. Jogar Mallarmé contra Baudelaire serve à intenção de reiterar os valores da vanguarda e projetar para o futuro uma determinada poética, mesmo que o ensaio declare o “fim das vanguardas”. Nesse sentido, o presente trabalho sugere que, pelas mãos de Haroldo de Campos, acaba-se por produzir uma leitura de Baudelaire. Ela leva mais em conta o autor de Les Fleurs du Mal que o de Spleen de Paris e é marcada por um contexto brasileiro de leitura da obra baudelairiana associado às poéticas que os concretos julgavam passadistas. Mais que isso, a fim de optar por outra “revolução”, trata-se de encerrar Baudelaire nos limites da “modernidade” e da “revolução hugoana”.

Review

This paper, "Baudelaire na contramão," offers a compelling re-evaluation of Charles Baudelaire's presence, or perceived absence, within the critical discourse surrounding Brazilian Concrete Poetry. Addressing a persistent critique, notably from Augusto Massi, regarding the Concrete poets' selective literary pantheon and the seeming omission of foundational modern figures like Baudelaire, the study delves into Haroldo de Campos's influential essay, "Poesia e modernidade: da morte da arte à constelação. O poema pós-utópico." Far from being absent, Baudelaire is shown to play a significant, albeit specific, role in Campos's intellectual architecture. The abstract reveals that Baudelaire is strategically cast as the embodiment of modernity's negative vocation, positioned in contrast to a "post-modern" Stéphane Mallarmé, who is heralded as a prophet of future poetic revolution through syntactic and epistemological innovation. The central contribution of this work lies in meticulously exposing the strategic function of Baudelaire's portrayal within Haroldo de Campos's argument. By playing Mallarmé against Baudelaire, Campos effectively reiterates vanguardist values and projects a specific poetic future, even as the essay simultaneously declares the "end of vanguards." Crucially, the paper suggests that this maneuver results in a constructed reading of Baudelaire—one that prioritizes the author of *Les Fleurs du Mal* over the more fragmented and modern sensibility of *Spleen de Paris*. This particular interpretation is framed within a specific Brazilian context, where such readings of Baudelaire were associated with poetic movements deemed "passadistas" by the Concrete poets. Thus, Baudelaire is confined within the boundaries of "modernity" and the "Hugoan revolution," serving to clear the conceptual path for a different, favored "revolution." The implications of this analysis are significant for understanding the critical and historical methodologies employed by the Concrete Poetry movement, and more broadly, the reception of European modernism in Brazil. By demonstrating how a canonical figure like Baudelaire could be selectively interpreted and strategically contained, the paper illuminates the intricate ways literary history is constructed to serve contemporary aesthetic and ideological agendas. This study provides valuable insights into the intellectual operations behind the establishment of a poetic vanguard, revealing the nuanced critical negotiations involved in defining both a tradition and a future. Its focus on the particularities of Haroldo de Campos's Baudelaire offers a sophisticated contribution to the scholarship on Brazilian modernism and the ongoing critical engagement with foundational European literary figures.

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